gabriele parte 1

parte um do conto gabriele


boa leitura.


Hoje eu estou me casando, não é com a pessoa que amei, mas sei que foi ela quem me deu minha noiva. É difícil de explicar, talvez, a magia dela tenha falhado, ou, ela fez de propósito para que eu não a esquecesse.

Minha noiva esta entrando agora na igreja. Se nome é Aline. Eu sei que gosto dela, eu sei que a amo e sei também que sou vitima de feitiço. Feitiço benéfico, do bem. Um feitiço dado por uma garota especial.

Essa garota se chama Gabriela. Porque não desconfiei antes? Talvez por nunca ter sido tão religioso.

Uma olhada geral no mundaréu de pessoas que estava acompanhando nosso casamento e eis que encontro-a, Gabriela. Ela estava no fundo, em pé. Eu olho para ela e Gabi sorri de volta, se virando e sumindo entre uma coluna e outra. Simplesmente desapareceu, em um instante estava ali de vestido branco, com os cabelos soltos caindo no rosto tentando esconder o sorriso que jamais esqueceria, e sem que ninguém percebesse, sumira.

Ela me ajudou muito, me trouxe de volta a vida. Vida que eu havia perdido. Vida que jamais havia notado que existira.

Nossa historia é mais ou menos assim.

Eu tinha uma família, grande, numerosa, mas ninguém ligava para o que eu fazia ou deixava de fazer, amigos só tive um e foi na infância. Aos quatorze anos ele se mudou e desde então jamais tive um amigo novamente. Na escola era zoado o tempo todo. Não era tão zoado por ser discriminado, mas sim por ser tímido. E por eu ser tímido e calado pessoas que fossem vistas ao meu lado eram rejeitadas pelos demais. Então, quando alguém queria algo de mim pedia escondido, como colocar o nome em trabalhos, emprestar tal fita de vídeo game. Tudo isso escondido nos cafundós da escola e quando alguém nos visse nossa conversa logo tomava outro rumo e eu era espancado ou zoado. Garotas só riam de mim e as que descobriam que eu gostava delas me desprezavam perante a multidão. Eu cresci revoltado, mas tinha em meu amigo de infância a amizade e conforto que nunca tivera. Com ele nós jogávamos bola, nos perdíamos andando de bicicleta, subíamos nos telhados de nossas casas já que para nós isso era o máximo. Nunca brigávamos e se algum dia brigamos não durou muito nossas magoas. Eu cresci revoltado, mas era uma revolta interna, uma revolta de ódio somente com a escola, e jamais demonstrei isso para alguém.

Aos dezoito anos quis prestar à aeronáutica, mas não tinha requisitos mínimos, na faculdade não consegui passar no vestibular e quando consegui meus pais não queriam pagar as mensalidades. Eu queria prestar turismo, conhecer o mundo era tudo que mais queria e via que nesse curso eu teria total autonomia para abrir uma agencia, achava eu. Mas como meus pais não quiseram me ajudar com a faculdade, tive de procurar serviço e não conseguia. Hora eles pediam curso superior, outros pediam experiência, sem contar os que pediam uma aparência digamos assim, mais bonita. Mas que culpa tenho eu de ter nascido feio? Em toda minha vida somente uma pessoa disse que eu não era feio, meu amigo, que há dez anos não o vejo. Não que ele fosse homossexual, mas ele me entendia e sabia que eu sofria toda vez que levava um fora de uma garota.

A vida passou, estava com 24 anos, pessoa jovem, eu sei, mas eu era um jovem que perdeu o estimulo pela vida. Sem emprego, com sonhos, sem mulheres, com desejo, sem amigos, com falta de um ombro amigo. Eu desisti, não queria mais viver e minha família nem sentiria minha falta. Então, escrevi uma carta mais ou menos assim e a coloquei em cima do meu travesseiro. Como ninguém entrava no meu quarto, ela não seria lida tão cedo.

“Eu os perdôo. Eu sei que não tiveram culpa de ter um filho que não seguiu a linhagem corporal da família. Sei que vocês sentem vergonha de mim por eu não ser ninguém, mas eu os perdôo. Espero que se exista um céu, que eu vire um anjo e seja o salvador dos necessitados, pois sei a falta que um anjo desses fez em minha vida. Vocês me chamavam de homossexual só porque nunca trouxe uma garota para casa, mas vocês se esqueceram de perguntar por quê? Vocês brigavam comigo quando eu jogava vídeo game sozinho ou ia ao cinema sozinho, mas nunca se interessaram em me perguntar cadê seus amigos? Vocês não souberam as vergonhas que passei sendo humilhado por garotos que só queria se exibir para a escola, e não sabem a frustração que é amar uma garota e ser menosprezado sentimentalmente por ela, essa dor é a pior que existe. Machucar o eu interior é muitas vezes fatal. Eu procurei serviço e não encontrei, muitas vezes disseram que não tinha aparência, por isso resolvi fazer faculdade e vocês não me ajudaram. Eu sei que sou um estorvo na vida de vocês. Não os culpo. Não se sintam culpados. Hoje eu me vou, talvez para um mundo melhor, talvez reencarne mais feliz... não sei. Mas a partir de hoje eu me despeço de vocês.”

Coloquei essa carta no meu travesseiro. E sai de casa rumo ao nada.

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