gabriele parte 3

Enquanto o lanche não vinha ela me chamou para dançar. Dançar? Isso mesmo, dançar. Eu nunca dancei antes. Musica boa, musica relaxante. Eu gostava de dance ainda mais sendo No Tone. Ela dançava bem, sabia o que fazia, e eu só sacudia o corpo. Não estava muito a vontade, a cisma de as pessoas estarem me olhando, me perseguia:
- relaxe! Deixa a musica te levar.
- é difícil. Muita gente.

Foi nesse instante que ela me abraçou e senti outro assopro no ouvido. Frio, remexendo até a espinha. Depois disso me senti mais leve, olhava as pessoas e não me importava com elas, eu conseguia dançar, eu sabia que dançava ridículo, mas não me importava.
Logo depois a musica acabou e sentamos-se à mesa. Nossos lanches já haviam chegado e ela comia sorrindo pra mim:
- qual seu nome?
- Gabriela.
- bonito nome.
- hm... Obrigada. Qual o seu?
- isso importa?
- não muito.
- por quê?
- não preciso de nomes pra ter amigos.
- pra que nomes não e verdade? Não nos veremos mais depois daqui não é mesmo?
- não? Porque diz isso?
- o que eu tenho a oferecer para você?
- sua amizade.
- minha amizade. Você nem me conhece Gabriela?
- isso não importa.
- e se eu for um psicopata?
- não é.
- como sabe?
- eu gosto de você. E de todas as pessoas que gosto nunca me decepcionei.

Gostar? De mim? Pela primeira vez em 24 anos escuto essa palavra. A primeira vez que escuto isso de uma garota. Eu olhava para ela, a encarava, olhava cada centímetro de seu rosto e não encontrava um defeito. Ela não se importava que eu a encarasse pelo contrario ela sorria de volta mostrando que era extremamente confiável.
Fiquei nessa por horas.

Quatro da manhã e ela se despede:
- tenho de ir.
- já?
- tenho coisas pra fazer. E creio que você também tenha algo a fazer não?
- eu não Gabriela. Não tenho pra onde ir.
- claro que tem.
- pra onde?
- não tem casa? Não tem família?
- eles não ligam para mim.
- como sabe? Já perguntou pra eles?
- não preciso perguntar.
- acho que eles sentiriam muito a falta de uma pessoa como você.
- não sentiriam não.
- como você se sentiria se seu filho cometesse suicídio?
- me sentiria péssimo.
- e digo mais e se você acordasse de manhã procurasse seu filho e no lugar dele encontrasse uma carta de despedida?
- seria chato não?
- então. Não culpe seus pais, eles devem ser ocupados. Ao invés disso demonstre amor por eles. Você verá como será retribuído.
- acha que devo voltar pra casa?
- acho.
- então eu volto.
- a gente se vê.
- até um dia Gabriela.
- até meu amigo.

Sorri pra ela e Gabi me abraçou. Beijou-me no rosto. Gostei de ser tocado. Voltei pra casa e todos estavam dormindo. Entrei no meu quarto e deitei na cama. Assim que coloquei a cabeça no travesseiro senti algo me incomodar, acendi a luz e vi que era a carta de meu suicídio. Pensei nas palavras de Gabi de como eu me sentiria se lesse aquela carta. Ajeitei-me próximo ao abajur e coloquei a carta em baixo da iluminação e a li. Um sentimento de remorso culpa e pena bateu em mim. Corri para o banheiro picotei a carta e a joguei no vaso sanitário. Dei a descarga e dei fim naquela carta demoníaca. Voltei pra cama e deitei-me e sem ter no que pensar lembrei:
- como ela sabia que eu havia escrito uma carta?

Isso não importava, não naquele dia. Eu estava feliz pela primeira vez em anos e não queria estragar o momento.
No dia seguinte acordei lá pelo meio dia. Era sábado e meus pais não trabalhavam. Desci as escadas e eles estavam na sala assistindo a tv. Pensando em Gabi, olhei pra eles e disse:
- oi pai, oi mãe.

Eles não responderam. Decidi insistir:
- pai amanhã tem jogo no Morumbi, quer ir?
- você querendo sair de casa? O que aconteceu?
- nada. Só queria ir ao estádio, nunca fui.

Meu pai olhou pra minha mãe, não sei o que pensaram, mas resolveram ir todos ao estádio. Meu destino havia mudado de uma hora pra outra.

No dia seguinte fomos ao estádio. O Morumbi estava lotado. Era dia da entrega da taça ao São Paulo. Setenta mil pessoas aglomeradas nos anéis do estádio. Eu não gostava de multidão, mas por algum motivo eles não me incomodavam mais. A sensação de estar em um estádio é única. Não tem comparação. Milhares de pessoas gritando, incentivando o time, gritando é campeão e você sabendo que participou daquele dia histórico é inacreditável. Eu me emocionei, tive vontade de chorar, varias pessoas ao meu lado choravam enquanto o hino do São Paulo tocava no estádio. Eu via todos cantando, e resolvi cantar. E olhando as pessoas em volta foi que percebi uma loira alguns metros à frente. Parecia Gabi, tentei olhar de novo, mas a multidão se mexia muito e a perdi de vista. Não fiquei chateado, fiquei surpreso quando ao sair do estádio uma garota se aproximou de mim:
- oi.

Eu olhei e era Gabi.

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